Relato de uma eterna livreira – por Carolina Munhóz

Hoje a escritora Babi Dewet me mandou algo que me fez refletir. Ela estava autografando na Livraria Pergaminho de Campinas, local do meu primeiro emprego e tirou uma foto exatamente na área em que eu trabalhava.

Vendo essa foto voltei para o ano de 2006. Tinha 17 anos e já tinha escrito “A Fada” há um ano. Sem sucesso na busca por editoras e a situação em casa apertando, decidi procurar meu primeiro emprego e nada mais apropriado que em uma livraria. 2007 foi um ano intenso. Acordava 5h30 am para pegar carona com minha irmã que tinha que estar às 7 am na escola. Como só entrava às 8 am na Pergaminho, ficava uma hora lendo na Igreja do Carmo, que era próxima. Li “O Código da Vinci”, “As Brumas de Avalon”, “As Valquírias” e muitos outros livros dentro da igreja! Lá era bem mais quentinho e quieto. Ficava no trabalho até às 5 pm, voltava para casa para um banho rápido e ia para faculdade de Jornalismo, onde saia 11 pm. Eu achava aquela época pesada. Nunca imaginei que teria tempos piores a.k.a IBM.

Mas vendo essa fotografia, me vi na posição da Babi e relembrei minha rotina como livreira. Eu acho que era uma boa funcionária. Limpava aquela área praticamente todos os dias, atendia bem os clientes, lia os livros mais vendidos para dar dicas e tentava não me abater toda vez que tinha um cliente maluco me perturbando. Porque sim… existem muitos clientes loucos em livrarias de centro de cidade. De qualquer forma, nessa época limpava a área de literatura brasileira e infanto-juvenil. Destino? Vai saber! Lembro-me de ficar limpando os livros do André Vianco, imaginando como seria conhecê-lo, o único autor nacional de fantasia conhecido no mercado. Ainda pensava como seria publicar pela editora dele. Como o mundo é engraçado.

Trabalhei por 09 meses nessa livraria e aprendi MUITO mais do que eu imaginava. Aprendi a conviver com outras pessoas, a dar mais valor ao dinheiro (porque cada centavo de 500 reais era muito valioso) e principalmente entendi um pouco de como era o mercado. Eu convivi com as caixas de livros chegando todos os dias e com a seleção de quais iriam para as mesas. Eu vi como era a preparação para uma feira como a Bienal e como um livro chamava mais a atenção de um cliente. E fiquei todos os dias mentalizando que um dia o meu livro estaria ali também.

Só que naquele ano aprendi uma lição valiosa: eu precisava crescer. Conforme as cartas negativas foram chegando, percebi que para entrar no mercado editorial precisava estar muito mais preparada. Mesmo trabalhando e cursando faculdade, não me sentia adulta o bastante. Precisava me preparar, porque sabia que quando chegasse o momento, tinha que saber o que fazer sem errar. Então tomei duas decisões: 1) Me inscrevi no Ídolos para sentir um pouco do que seria estar naquela experiência “de fama”. Se eu passasse, tomaria aquilo como um sinal para ficar. Acabou que, de 3 mil candidatos em Campinas, fiquei entre os 300 e não me deixaram continuar por me considerarem ainda muito nova na época. Isso resultou agora em uma boa parte do Feérica. 2) Criei coragem e me inscrevi em um tipo de Intercâmbio chamado Au Pair. Fui por um ano babá de dois meninos em São Francisco. Não foi fácil essa decisão porque decidi pagar por aquela experiência do meu próprio bolso, então usei cada centavo ganho naqueles meses. Também deixei um namoro de 04 anos para trás. Mas eu sabia que tinha que aprender na marra o que era se virar no mundo adulto… sozinha.

Hoje eu sei que essa experiência me amadureceu para estar lidando com tudo que me acontece. Ainda escuto que sou “muito nova” e preciso ter “mais paciência”. Só que poderia ter achado isso naquela época e ainda estar no mesmo lugar.

Fiquei 01 ano nos Estados Unidos, voltei e retomei a faculdade. Trabalhei quase 02 anos na IBM da meia noite às 8 am, até ver que tudo isso ainda não me ajudou a crescer na carreira literária. Larguei tudo e me dediquei à assessoria de imprensa da primeira versão de A Fada. Claro que mão de vaca e independente que sou, não deixei de ficar sem receber meus trocados. Por um ano e pouco fiz bico em um Sebo de Livros, onde ganhava R$ 2,50 a hora. Quando não trabalhava para divulgar o livro, garantia a entrada do cinema de fim de semana. Pois é… uns 5 mil livros cadastrados na Estante Virtual foram preenchidos por mim. Essa assessoria acabou resultando nas minhas primeiras matérias e deu no que deu.

Nossa! Como essa foto me fez voltar no tempo.

Obrigada Babi pelo presente. Foi no período certo. Lançar um novo livro sempre é um momento lindo e que nos deixa muito feliz. Entretanto, é o momento em que se mais precisa trabalhar seu ego e com suas emoções. É o momento em que as pessoas vão lhe julgar e criticar qualquer detalhe. O importante é lembrar-se de onde veio, da sua jornada até ali e continuar focada na estrada planejada.

Hoje sei que não estou mais sozinha. Tenho a Mel, a Sophia, a Violet e muitas outras pessoas me apoiando. E tenho vocês, que me fazem sorrir com poucas palavras.

Obrigada por acreditarem em mim e por me ajudarem a viver esse conto de fadas.